FESTA NA CORTE

Hoje tem Festa na Corte.
Tudo tem que estar na melhor qualidade pois virá gente de alto nível!
Vem também uma “gentinha”, um mol de pessoas para fazer volumoso!
Claro que com eles vem sempre os penetras (parentes e aderentes).
O motivo da Festa não importa para ninguém!Na hora, vira pretexto para estar lá e quando começar a festa, começam também o “festival” de modos, traquejos e formalidades!
Nesta Noite, todos têm um compromisso social aparentemente muito sério!
Terão que atuar um papel social pseudo-interessante. Devem esquecer as misérias mundiais, camuflar suas mediocridades íntimas e esconder os medos e preocupações cotidianas. Devem demonstrar um relaxado sorriso enferrujado!
Os convidados são Eles & Elas e eles e elas.
Os que mais divertem são esses últimos (eles e elas).
Os eles são bem engraçados. Alugam ternos amarrotados, incrementam um gel no cabelo ou uma gravata descombinado com uma camisa nada a ver e pronto! Estão preparados para o evento!
As elas sofrem mais; o cabelo na chapinha (ou pior, no bobs) a tarde inteira, calçam saltos altos sem saber como e porque; puxam o decote insistentemente enquanto falam constantemente palavras contraditórias a seu respeito!
Eles & Elas já não têm o mesmo problema. Estão habituados a estes rituais sociais e manejam com destreza as opiniões favoráveis! Disfarçam muito bem o incômodo dos problemas diários e estão sempre prontos com um colunável sorriso para você!
Quando a Orquestrar começar, humana ou mecânica, começam também os conhecidos embalos rítmicos.
No balanço coesivo da música, alguém sempre consegue dançar e desses daí, uns dez por cento atinge a plenitude do ato!
O restante se limita a observar se está sendo observado, e equilibra um “drink” enquanto mímica um movimento meio tribal.
Nesse meio tempo, uns rapazes disputam uma entrada clandestina, flertes traiçoeiros são triangulados (geralmente à meia luz), e solteiros e solteiras simulam a dança do acasalamento.
Tem sempre algum eremita, meio de canto, desconfiado, fumando e bebendo compulsivamente a se fazer companhia e auto-ajudar-se a encarar o fato de conviver aquilo tudo.
Não pense você que não irei que eu vou sim!
Não sou nenhum desses personagens porque estou no quadro de funcionários na Nobre função de Servir!
E não imagine que eu gostaria de mudar de roupa e estar lá, do outro lado! Não sou frustrado, pois Sirvo todos com muito prazer!
Gravo os rostos e pedidos, tragos regalos e aperitivos de bandeja e adoro, adoro mesmo quando, na mesa em que chego alguém me olha nos olhos, sorri e pergunta pelo Meu Nome!
Reconhecendo minha etnia, respeitando a minha cidadania e provando a minha existência nesse mundo de apenas especulações fictas e abstratas!
Eu Me sinto o Rei!