
Não era bem uma família, pois tinha sido adotado! A contragosto da Madame, mas sob as súplicas da filhinha! Vinham eles com um propósito mórbido e nem desconfiava o Cão, que seria dentre em breve, mais um exilado da sociedade consumista e calculista.
Tinha sido julgado pela “Corte” e fora provada a sua ineficácia como cão de casa chique! Era magro e feio; focinho comprido; orelhas e dentes “de morcego”; rabo grande, seco e duro; olhos claros e chorões, enfim: um típico vira-latas! Além disso, mijava insistentemente no tapete novo da “patroa” e tinha uma interminável rixa com o gato do vizinho!
Pararam. A menininha abraçou chorando o Cão. Desceram do automóvel e rapidamente voltaram sem olhar para trás, deixando o cachorro no “meio fio” da BR olhando sem entender nada!
Partiram de repente. Foi então que o dog-street entendeu a despedida! Compreendeu que fora abandonado e não pensou duas vezes, disparou a 10 ou 15 por hora atrás do automotivo, correndo o mais que podia. Seguindo-o com desespero e confusão.
Quando passou por mim, notei sua tristeza e um olhar de quem pede desculpas pela genética. Ele nunca desistiria de seguir o seu antigo dono, se não fosse o ônibus tirá-lo da pista, deixando-o perder de vista, a Esperança; enquanto perecia ali, atropelado, nos seus últimos suspiros!
O que mais impressionou naquele animal, é que ele corria sem mágoa e sem rancor! Sem se importar de ter sido dispensado, abandonado. Corria com afeto e amizade! Não importava para ele o semblante de sua ex-família, que friamente larga um companheiro que não se "encaixa" mais, sem deixar nenhum direito adquirido. Nada a não ser fome e sol.
Quando vi a atitude daqueles humanos e o gesto daquele Quadrúpede, decidi que a partir daquele momento, eu rezaria também para o Deus dos Cachorros!
Foi desse dia, que passei a entender melhor a Arca de Noé!
Lindo e emocionante texto
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